Carta ao leitor

Olá! Seja bem-vindo ao blog Unespiando, mídia-laboratório da disciplina Técnica Redacional II –
Impresso (turma A), ministrada aos alunos do 2o. termo de Jornalismo da Unesp Bauru.

Aqui, você encontra vários formatos jornalísticos. São reportagens, entrevistas pingue-pongue etc.
Nossas duas metas são: experimentar e oferecer textos sobre assuntos relevantes.

Esta primeira edição é dedicada à cobertura das propostas de políticas públicas voltadas aos jovens,
dos candidatos a prefeito de Bauru.

Nossas equipes foram às ruas e entrevistaram os seis candidatos: Caio Coube, Clodoaldo Gazzetta,
José Leme, Márcia Camargo, Rodrigo Agostinho e Rosa Izzo.

Fizeram, também, uma matéria sobre a importância de políticas específicas aos jovens e outra sobre
a necessidade de formação para uma cultura política.

No Fala Jovem, opiniões da moçada sobre como escolhem em quem votar e sobre o que falta para
eles, em Bauru.

Tudo isso, feito em apenas um mês de aula. Pensa que foi fácil? Eles contam detalhes dessa
experiência na coluna Bastidores.

Pronto, nós já fizemos a nossa parte. Agora, falta a sua: ler, refletir e enviar seus comentários.

Boa leitura!

Profa. Roseane Andrelo

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Entrevistas: Márcia Camargo (Psol/PSTU)


“O jovem tem que se ver representado na política de alguma forma”, diz Márcia

Márcia Camargo é a única candidata de um partido socialista a concorrer à prefeitura de Bauru, em 2008. Ela disputa as eleições pelo PSOL, na coligação “Frente de Esquerda Socialista PSOL/PSTU”. Márcia tem 38 anos, é casada com Saulo Rodrigues e não tem filhos. Docente com formação em Artes, atua no Sindicato dos Professores da Rede Estadual. Essa é a primeira vez que disputa uma eleição e seu vice é Paulo Sérgio Martins. A candidata concedeu essa entrevista enquanto conversava com eleitores nas ruas do centro da cidade.

Quais são suas intenções em relação aos jovens?
Márcia Camargo: Quanto às casas de cultura, nosso programa para os jovens visa a criação delas nos bairros. Cada região vai ter a sua casa de cultura e vamos criar os conselhos populares deliberativos, nos quais todas as pessoas vão poder participar. Os jovens vão elencar as prioridades deles em diversas áreas, inclusive na cultura. Também vamos lutar pelo passe livre para os estudantes e pela adaptação das praças em áreas de lazer. Por exemplo, nas casas de cultura, nós vamos cadastrar os artistas de cada bairro para que eles se apresentem e façam oficinas em outras casas. Haverá uma espécie de intercâmbio entre os bairros. Quanto aos esportes, há uma demanda muito grande para esportes alternativos, como o skate. Então nós queremos adaptar praças com lugares para esse tipo de prática e para a parte artística. Para que os jovens, nesses ambientes, possam se expressar, através da grafitagem e de shows. Através do passe livre, vamos marcar uma concentração nos finais de semana e, com rodízios entre as casas de cultura, promover uma reunião entre os jovens, para dar uma alegrada na cidade.

Como os jovens teriam espaço nos conselhos populares deliberativos?
M.C.:Vamos pegar dois exemplos: um bairro como Santa Edwiges, que não tem nem pavimentação nas ruas. Quais serão as prioridades dos jovens que moram nesse bairro? Ainda não sabemos, mas provavelmente eles vão querer lazer. Não algo relacionado com cultura erudita, mas podemos levar as casas de cultura. Quem vai dizer como a casa vai funcionar é o jovem de lá. Um exemplo um pouco diferente seria a Vila Universitária. O ideal seria que houvesse um intercâmbio entre os jovens desses bairros, que são muito diferentes entre si, através de um rodízio. O passe livre para os estudantes nesse caso, ajudaria a concentrar o público, até mesmo para apresentações.

O passe livre atingiria todos os estudantes ou só os menores de dezoito?
M.C.:O passe livre atingiria a todos os estudantes, independente da faixa etária.

A senhora acha que há algum meio de atrair os jovens entre 16 e 17 anos que possuem o voto facultativo a votar?
M.C.:Eu acho que o jovem tem que primeiro se ver representado na política de alguma forma. Muitos candidatos falam mais da questão econômica e deixam de lado a cultura e o estudo. Sou professora de Educação Artística do ensino fundamental e médio e gostaria que Bauru sediasse um evento cultural de nível internacional como tem em Rio Preto. Gostaria também que a cidade fosse referência em literatura, já que temos diversas universidades e muita produção e temos também muita gente que faz documentários. Nesse sentido, gostaria de fazer com Bauru um evento nacional. Não penso num turismo mais comercial, como a festa do peão, porque isso já acontece, a iniciativa privada já tem. Acho que o governo tem que socializar e promover eventos culturais, trazer pessoal musical, por exemplo. Aqui em Bauru tem muita coisa, mas é tudo muito disperso, percebemos que nada tem um apoio do governo. As empresas privadas promovem essas feiras e isso vai continuar, mas o estado tem que dar uma força e promover eventos culturais.

Qual sua opinião em relação às políticas públicas para jovens existentes hoje em dia?
M.C.:Eu acho que não há política pública, uma política séria. O governo atual está comprometido muito com o pagamento da dívida da cidade. Se faltou até para o serviço básico, então, não tem pra cultura. Teve a virada cultural que é uma questão do estado, mas o município não tem. Isso veio diminuindo. A questão do carnaval, por exemplo. Na periferia tem gente que toca samba e samba de raiz muito bom. Era uma coisa que tinha mais, hoje as escolas de samba desfilam no bairro. Antes as outras cidades vinham assistir e é ridículo, quiseram cobrar dois reais no Sambódromo e o pessoal “chiou”.

A senhora possui alguma proposta em relação ao primeiro emprego?
M.C.:Nós vamos criar as frentes de trabalho, que seria uma medida mais imediata para as pessoas que estão desempregadas. A prefeitura é quem vai desalavancar o desenvolvimento da região. Não é o setor privado, nós vamos investir no setor público. Vamos ampliar o quadro de funcionários, queremos fazer parcerias com as universidades para fazer estágio dentro da prefeitura. Não há algo direcionado para o primeiro emprego, mas vamos criar oportunidade como um todo, principalmente para o pessoal mais carente. Queremos regularizar melhor a situação do trabalho informal e do ambulante que também não tem nada que garanta. As nossas propostas são em nível mais classista, nós vamos dar preferência para as pessoas que não têm nenhuma oportunidade, não é nem a questão de ser a primeira, mas a de não ter nenhuma. A gente acredita que com isso a cidade se desenvolve e cria oportunidade como essa, de primeiro, segundo emprego e emprego para toda vida. A frente de trabalho vai ser em caráter de emergência, não vai precisar fazer concurso. Por exemplo, a população dos conselhos populares elencou que em determinado bairro precisa de limpeza de terrenos, então criamos uma frente de trabalho para sanar aquele problema. As pessoas recebem pelo serviço e numa outra demanda, num outro bairro, cria-se outra frente. Esta é uma forma de amenizar, porque para colocar o programa em funcionamento demora um pouco.

O que a senhora a acha do IPTU progressivo?
M.C.:É garantido por lei. Quem tem uma casa maior, paga impostos mais altos. Mesmo assim, somos da opinião que os ricos têm muitas opções, desfrutam mais oportunidades culturais da cidade. Assim, podem ir ao SESC ou ao Alameda quando há um evento cultural, o que aumenta a qualidade de vida dessas pessoas. O IPTU é garantido tanto pela Constituição quanto pelo estatuto da cidade. Há um estudo que comprova que o IPTU proporcional pesa mais e fica mais caro para o pobre. Com o IPTU progressivo, quem tem um terreno ou casa menor, paga menos imposto, pode até ficar isento. Isso ajuda a incrementar a renda do trabalhador, diminuindo seus gastos.

E a auditoria das dívidas públicas como prestação de contas à comunidade?
M.C.:Julgo que é um lugar onde é escoado muito dinheiro e sabemos que não existe transparência em relação a esse capital. As auditorias serão feitas juntamente com esses conselhos populares deliberativos. Assim, a população saberá quanto devemos, para quem devemos e como pagaremos. Não posso decretar moratória, pois dessa forma não haveria repasse de impostos. A cidade arrecada principalmente através do repasse de impostos. Isso é bem desigual, muitos dos impostos que são arrecadados aqui vão para o estado e para o governo. Só voltam 25% para cá. Essa é outra questão que queremos manter constantemente em discussão com a população. Queremos transparência em relação à dívida por que ela não é do prefeito, é da população, e o dinheiro usado para pagá-la é público.

Sabemos que a senhora foi militante do movimento estudantil. Hoje em dia, percebe-se que não há tanto engajamento dos jovens, tanta participação política. Qual sua opinião sobre isso?
M.C.:Acho que vivemos num momento de completa desmobilização da sociedade, o caráter neoliberal e individualista é que dá o tom a partir do qual a sociedade se organiza. Em algumas faculdades, as matérias são organizadas por créditos, o que inviabiliza que as pessoas se conheçam, partilhem idéias. A gente credita muito essa desmobilização ao modelo econômico em que vivemos. O modo como organizamos nossa vida diante do nosso trabalho, diante de como vamos gerar economia, vai determinar a maneira como vamos nos organizar socialmente. Vivemos num mundo muito competitivo, diante de um modelo capitalista excludente. Isso é muito visto nos movimentos de greve, onde as pessoas entendem que não podem se mobilizar por uma causa pois dependem muito dos salários que recebem. Percebemos essa desmobilização como um fenômeno da idade contemporânea. Acho que isso reflete na formação que temos desde a escola, de não nos organizarmos. E é isso que vamos fazer com o trabalho de assistência social. Vamos reintegrar as pessoas que procuram esses assistentes, além de dar a elas uma formação política. Não pretendemos promover uma formação político-partidária, e sim fazer com que as pessoas entendam o contexto em que vivem, além de conhecer seus direitos trabalhistas e brigar por eles. Assim, o trabalhador voltará como um profissional muito mais consciente de seu papel político. Acho que hoje falta, nas escolas, na TV, na sociedade como um todo, uma discussão sobre política.

Grupo: Júlia Matravolgyi, Mariana Zaia, Renato Sostena e Vivian Lourenço

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